A primeira vez que o vi, estava meio desesperado , pousado na minha horta, aparentemente procurando comida entre os orgânicos.
A surpresa que me causou foi recíproca, levantou vôo e foi para o alto da frondosa caneleira.
Tucanos são bastante comuns por aqui. Mas como sempre os vejo em bando, a presença de um cavalheiro solitário me deixou preocupada. Depois do ciclone que atingiu nossa região, dizimando boa parte de nossas árvores centenárias, percebi uma redução drástica do alimento destas lindas e, incompreendidas aves.
Ouço constantemente afirmações do tipo: - Tucano é bicho ruim! Come os filhotes dos outros pássaros! Sempre fico pensando: Bicho ruim é o homem! Que mata sem necessidade, nem sempre para se alimentar! Matando os da sua própria espécie,inclusive! Animais matam para sua subsistência e, num compasso tão harmônico, que se não houvesse a interferência do “humano”, todas as espécies continuariam preservadas.
Mas enfim, meu amigo solitário veio se chegando, as bananas com que alimento as saíras foram um atrativo irresistível. A princípio, meio desconfiado, não sem razão, pois a abundância de bichos desta casa, pode parecer meio assustador para uma ave silvestre. Mas, aos poucos foi percebendo que aqui, nada representava um real perigo para suas penas coloridas. E foi ficando mais afoito. Já não voava mais, com tanta rapidez, para se refugiar no alto das árvores. Ficando muito confortável nos frágeis galhos da Trombeta de Anjo, ao lado da janela da sala.
Coloquei a fruta no peitoril da janela e ele passou a se alimentar ali também, me possibilitando desfrutar dos detalhes inigualáveis de sua roupagem rica e vibrante. O preto retinto da casaca, o amarelo cítrico do bico e do pescoço e o vermelho do peitoral. Este vermelho é o que mais me encanta! È de um tom que as fabricas têxteis ainda não conseguiram reproduzir. É único! E absolutamente lindo!
Uma manhã ouvi barulho na vidraça e , para minha surpresa, lá estava meu galante cavalheiro, acompanhado de linda e frágil senhorita, sentados no peitoril e aguardando o café da manhã, com o qual ele já estava acostumado. Apressei-me e os servi, observando como ele tomou a dianteira e, com pequenos grasnados a chamou pacientemente, até que ela timidamente se acomodou na janela e, foi pegando pequenos bocados, levantando graciosamente o lindo e generoso bico para rolar minúsculos pedaços para a garganta. Bem diferente do “rapaz”, que sempre pega pedaços enormes, necessitando da ajuda da pata, para segurar, enquanto come vorazmente.
Fiquei ali vendo a cena, sentindo o clima de romance no ar e pensando que ela, como um ser bem feminino, deve ter levado em consideração não apenas o brilho saudável das penas deste macho galante, como também a capacidade de conseguir alimento. O que o deve ter colocado bem a frente, na lista de pretendentes.
Agora, passado uma semana, já faz parte de minha rotina, conviver com este lindo e harmonioso casal. Já conheço seus hábitos e, horários. Mas, se esqueço de colocar as bananas, não tem menor problema. Os dois me chamam com seu rouco grasnado. Daí é só sair correndo, colocar as frutas na janela ou na cerca e, os dois se banqueteiam.
Resta agora esperar que deste romance, em breve tenha a alegria de receber uma família, com pequenos tucaninhos chegando confiantemente a minha casa.
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